sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Dois males da humanidade + Bônus de Natal

Começando pelas duas críticas rotineiras e, depois, uma crítica antiga publicada na revista virtual Desenredos.

Notas sobre um escândalo (2006), de Richard Eyre. Com Judi Dench.
Esse drama polêmico-"disfarçado" esteve nas listas dos melhores de 2006. E todo elogio é pouco diante dessa grande obra. A partir de monólogos internos e más interpretações de gestos e situações, é narrada a história de Barbara Covett, vivida por Judi Dench (Shakespeare apaixonado e Iris). Barbara é uma professora ginasial que conhece Sheba Hart, representada por Cate Blanchett (O curioso caso de Benjamin Button e Elizabeth), colega de trabalho que se envolve com um aluno de sua classe. Sheba tem seu segredo descoberto por Covett, mas essa mostra-se bastante carente por amizade e concorda em não revelá-lo, contanto que ambas possam ser confidentes uma da outra. Mas a obsessão e os ciúmes podem trazer sérias consequências para elas. O filme é, em si, a prova de cinema inteligente e, como se não bastasse, os outros elementos ajudam a torná-lo ainda mais especial, como a dupla principal (nada menos que perfeitas interpretações) e a trilha sonora que se encaixa brilhantemente com as imagens fortes.
Avaliação: 9,5

Amadeus (1984), de Milos Forman. Com F. Murray Abraham.
Desde que começa o longa, já se sabe que não é qualquer filme que veremos. A obra-prima que nos é mostrada é algo que está devidamente à altura do grande homenageado: Wolfgang Amadeus Mozart. Ambientado na Viena do século XVIII, a trajetória do insano Amadeus é contada em flashback pelo então idoso e suicida Antonio Salieri (aqui interpretado por F. Murray Abraham, de Scarface e Poderosa Afrodite). As interpretações são uns dos pontos mais fortes da trama, que conta a relação de Mozart (vivido por Tom Hulce, visto também em Frankestein de Mary Shelley e Mais estranho que a ficção) com a Corte, com sua dedicada e bela esposa e com o falso e invejoso Salieri. É quase impossível fazer qualquer comentário logo após assistir à essa verdadeira obra de arte, que conta com detalhes simplesmente perfeitos, como a direção de arte, os figurinos e a maquiagem. Enfim, a recriação da época, encabeçada pelo diretor Milos Forman (Hair e Um estranho no ninho) é no mínimo de brilhar os olhos do espectador. Todo o espetáculo é de uma inteligência e elegância que impressiona. Digno de aplausos em pé e várias revisitações à melhor biografia já feita na história do cinema.
Avaliação: 8,5

Canções de amor (2008), de Christophe Honoré. Com Louis Garrel.
Elaborar um roteiro é uma árdua tarefa. Se for um roteiro musical torna-se ainda mais difícil. E criar um com músicas que já existem é um alvo fácil para críticas ácidas. Prova disso são os recentes Across the Universe (de Julie Taymor, 2007) e Mamma Mia! (de Phyllida Lloyd, 2008), que não alcançaram o sucesso estimado. Mas a partir do que é cantado em um dos musicais acima, “com todos os erros devemos estar sempre aprendendo”, Canções de amor comprova que realmente aprendeu. A história de dor e redenção seria facilmente esquecida se tivesse caído em mãos erradas. Mas com o diretor em ascensão Christophe Honoré (Em Paris e A bela Junie), o filme ganhou novos ares. Pode-se até dizer que há dois protagonistas na tela: Ismaël e Jeanne, vividos respectivamente por Louis Garrel (Os sonhadores e A fronteira da alvorada) e Chiara Mastroianni (dubladora de Marjane Satrapi, na premiada animação Persépolis). Ambos não sabem conviver com a perda de uma pessoa em comum, mas, enquanto ele persiste em continuar vivendo sua vida com novos amores, ela encontra-se sem conseguir avançar nem retroceder. O filme, que esteve na lista especial do Festival de Cannes de 2008, proporciona momentos únicos e originais, os quais impressionaram muitos críticos, desde a melancólico abertura, que mostra as ruas movimentadas no crepúsculo de Paris, até os créditos, com a conveniente música da cantora francesa Bárbara, Ce Matin (“eu fui ao bosque para colher amoras para ti, meu amor, para ti”). Mas, melhor do que as atuações, as locações e o enredo intenso, as músicas de Alex Beaupain funcionam muito mais do que só para completar diálogos. Transpõem sentimentos que, por vezes, a simples conversa não é suficiente. Enfim, essa fórmula bem-elaborada (que conta com competentes direção de arte, fotografia e montagem), consegue atingir seu objetivo: fazer um filme simples, mas com uma mensagem bastante profunda. Cabe apenas a cada um descobrir qual é essa mensagem.

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